sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As coisas acontecem no município

As pessoas não vivem em Brasília. As pessoas não vivem em seus Estados. As pessoas vivem em suas cidades. E é lá que tudo acontece.

Porém, grande parte os recursos que estão sendo arrecadados vai para União e Estados, o resto fica para administração das cidades.
Esta situação é injusta, pois as demandas por saúde, educação, trabalho, combate à violência esta onde as pessoas vivem e a solução nem sempre vem pode vir das próprias cidades.
Meus mandatos sempre se pautaram em ver esta realidade. Tive que brigar muito por verbas para Itu. Meu aliado, o Deputado Celso Russomano, sempre foi um forte combatente nesta causa comigo. Fui o vereador que mais verba trouxe para a cidade. Mas não vejo isto com bons olhos. O ideal seria que nosso pacto federativo permitisse uma melhor divisão do bolo de tributos entre União, Estados e Municípios.
A situação piora quando falamos de SAÚDE. O sistema SUS está bem aquém da demanda e lutarmos por um melhor atendimento na área é constante. Quem conhece minha atuação sabe de minha prioridade para esta área. A última luta para reparação de equipamentos na Santa Casa foi aguerrida. (vide notícia no SITE)
Outro ponto da situação é o papel do vereador neste contexto. O vereador vota todo ano o Orçamento do Município e aprova eventuais convênios da cidade com a União e Estados. Cabe ao vereador brigar também pela alocação dos parcos recursos do município nas áreas onde seus eleitores identificam as maiores carências e problemas. E também fiscalizar a execução do orçamento. Do mesmo modo, avaliar se as parcerias do município em diversas áreas são vantajosas.
Cabe ao eleitor cobrar de seus vereadores pelo estabelecimento destas prioridades.
Só assim podemos ter uma melhor alocação de recursos em áreas de acordo com as necessidades dos cidadãos. Enquanto isso tem que se brigar por uma divisão mais equânime dos tributos. Afinal, as coisas acontecem no município... Não é mesmo?

Eleições, Eleições e Eleições

Em 2008, após ter sido o vereador mais votado da cidade, os órgãos de imprensa da cidade e até alguns de meus eleitores já faziam prognósticos para minha próxima candidatura. Seria eu o próximo prefeito da cidade ou o novo deputado estadual ou federal da região. Ora, para mim, francamente, isto era muito prematuro. Tinha na época 4 anos de mandato pela frente. Isto é uma vida. Imagine uma criança recém-nascida e com 4 anos. É muita diferença. Com 4 anos ela estará andando, falando..
Este é um vício de nossa tradição política. Poucos estão dispostos a assumir integralmente seus mandatos. Fui eleito vereador e farei o possível e o impossível para ser o melhor entre todos com todas as minhas forças e minhas limitações.
A trampolinagem política não me motiva. O que me motiva é o trabalho que posso realizar. Se por um acaso do destino for candidato a um dos cargos que prognosticaram, isto será e tão somente, pela necessidade de continuar meu trabalho e pela vontade de meus eleitores.
Imaginem como está sendo prematura a discussão sobre a sucessão do Presidente LULA. Já dura mais de 2 anos. Isto se deu, portanto, antes da metade de seu mandato. Quanta coisa mais importante como a saúde da população, a educação, a violência, o combate às drogas e ao crime organizado poderiam estar sendo discutidos... enquanto isso, ficamos discutindo um futuro de cartomantes e leitores de bolas de cristais. Com os problemas que o país tem, francamente, tudo isso é uma perda de energia que poderia estar sendo aplicado no trabalho e na melhoria da qualidade de vida de nossa população!
Cada político tem que assumir seu mandato em sua integridade e honrá-lo dignamente.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O primeiro traficante: o inimigo oculto.

Muitos acham que as drogas chegam através de um traficante, por exemplo, pipoqueiro da escola, que coloca na pipoca dos adolescentes uma poção mágica ou a lenda urbana da dona da cantina.
Minha experiência no combate as drogas mostra que o traficante que inicia o jovem às drogas senta-se no sofá como um amigo íntimo da família. Sim é aquele amigo de seu filho, insuspeito que você, pai ou mãe, abrigam em sua casa que vai apresentar a droga ao seu filho. Às vezes o mais rico ou mais rica, o mais valente ou a mais delicada, o mais ou a mais educada...
É isso mesmo! O primeiro traficante entra pela porta da frente, freqüenta a casa de vocês, divide as refeições, viaja a seus convites. Ele é o inimigo oculto.
Não estou aqui dizendo que seu filho ou filha não devam ter amizades, mas que é por esta via que invariavelmente a droga chegará a seu filho. Por isso, antes que isto aconteça, o diálogo é o melhor remédio. Conheça seus filhos profundamente e quem são suas companhias. Isto dá trabalho. Mas é melhor do que ter a surpresa de ter um filho viciado.
Converse sobre drogas em casa abertamente Para esclarecer o mal que elas trazem, obviamente. Droga não é para se ver, tocar, experimentar... Explique os problemas que elas causam em nossa sociedade: violência, distúrbios na saúde mental e geral, entre outros. Entenda o que seus filhos fazem nas horas vagas, nas madrugadas, à tarde, de manhã enquanto vocês trabalham. Seja o melhor AMIGO de seu filho.
Esta é a maior contribuição para afastar o inimigo oculto. Adote seu filho para que o inimigo não o adote.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Brasil da Pós-Crise: o Processador Global de Alimentos e a Doença Holandesa

O Brasil da Pós-Crise: o Processador Global de Alimentos e a Doença Holandesa

Vitor Bellizia (*)


Ainda que sob o manto monetário, é possível prever o novo ciclo econômico que deve prevalecer no mínimo para a próxima década.
Este ciclo será comandado pela dinâmica de três países emergentes: a China, a Índia e o Brasil. Cada um dentro do seu espaço de atuação. Espaços estes não concorrentes que sem dúvida serão o novo pólo dinâmico da economia mundial.
O último ciclo econômico pode ser definido entre dois pontos: a) a política de juros baixo do FED pós 11 de setembro em 2001 e b) a quebra so Lemon Brothers em setembro de 2008.
Neste interregno, a economia mundial assistiu a um forte crescimento (Vide Gráfico abaixo) puxado pelo crescimento da China que se firmou como o grande processador de produtos industrializados do mundo e da Índia que se caracterizou como o grande processador mundial de serviços. A Índia gerou “o software” deste padrão de acumulação, como resultado da política educacional indiana que exportou estudantes nas décadas de 80 e 90 para estudarem nos melhores centros de educação do mundo e capturou a vantagem em serviços de baixos custos, sobretudo na área computacional e de call center e de outros serviços com fortes inversões dos países centrais. Enquanto a China gerou “ o hardware” do modelo, fabricando produtos industrializados e jogando um novo padrão de competição na economia Global.


Cabe ressaltar que todas as inversões na Índia , China e em outros países emergentes foram feitos num cenário de baixa taxa de juros nos países centrais e com alta liquidez internacional.
Ocorre que tanto este software como este hardware do modelo necessitavam de dois componentes básicos para rodar: a) energia e b) alimentos.
Do lado dos preços da energia, pode-se assistir a um forte incremento dos preços do petróleo que beneficiou, de um lado, os paises exportadores de petróleo e, de outro, os programas de biocombustíveis por todo mundo. (Vide Gráfico abaixo)




O aumento da renda seja nos países exportadores de petróleo bem como da Índia e da China e de outros emergentes fez com que um grande contingente populacional entrasse no mercado alimentar de proteínas. Como se sabe para se produzir um quilo de carne bovina é necessário o consumo de 8 kg de grãos enquanto que para a produção de um quilo de carne suína é necessário o consumo de 5 quilos de grãos. Com isso ocorreu uma brutal elevação das commodities agrícolas e as relações de troca dos países emergentes com os países centrais foram muito positivas para os primeiros, desencadeando uma forte acumulação de reservas internacionais nestes países. Isto inclusive contrariando todos os pressupostos teóricos da relação de trocas dos estruturalistas latino americanos da década de 60.
Conforme pode ser observado no gráfico abaixo, antes da crise o consumo de carnes e o preço das commodities estavam em níveis históricos extremamente elevados já comprimindo a capacidade de consumo e poupança nos países centrais e gerando pressões inflacionárias.






Cabe ressaltar que nos últimos vinte anos os países emergentes foram solapados por crises (Crise Mexicana, Asiática, Russa entre outras) que erodiram seus balanços de pagamentos e desencadearam crises cambiais agudas e como atitude ativa, adotaram o que André Lara Resende, chamou de Mercantilismo Emergente. Esta política fortemente caracterizada por um forte controle fiscal e redução da relação dívida externa/PIB e incentivos a exportações resultando num entesouramento de reservas internacionais para serem utilizadas em períodos de crise, uma vez que a dinâmica das crises nestes países obedecia a uma lógica muito bem explicada pelo diagrama abaixo apresentado pelo Presidente do Branco Central Brasileiro, SR. Francisco Meirelles para o caso brasileiro abaixo.


Este processo de entesouramento jogou muita liquidez no mercado de títulos dos países centrais e criou bolhas especulativas. A mais famosa a bolha imobiliária americana que resultou na quebra do Banco Lemon Brothers em Setembro de 2008.
Quando se analisa as principais reservas mundiais, os países emergentes mostram seu destaque.




Dentro deste panorama pode-se deduzir que a crise de setembro de 2008 tem bases reais bastante concretas. De um lado, o forte crescimento mundial não pode se sustentar pelo estrangulamento da oferta dos “tradables” energia e alimentos, uma vez que o crescimento destes preços reduziu a renda disponível para a realização das inversões realizadas e das quantidades produzidas, ou seja, uma típica crise de sobre-acumulação do sistema capitalista.
Não é por menos que os déficits no balanço de pagamentos agravados pelas Guerras do Afeganistão e Iraque e o crescimento da dívida privada norte americanos tenha como correspondência quase que contábil o incremento das reservas dos países emergentes.






A política monetária e fiscal expansionista pós setembro de 2008 dos países centrais resolveu conjunturalmente o problema, mas não de maneira estrutural.
A saída estrutural será a ampliação da capacidade de fornecimento de alimentos e de energia em escala global.
Nesse sentido, o aumento do preço do petróleo e sua manutenção em patamares elevados contribuirão para ampliar o incentivo ao biocombustível e outras fontes de energia. A ampliação do uso de biocombutível concorre diretamente com a agricultura de alimentos e, neste aspecto, o agronegócio ganha impulso redobrado neste novo ciclo.
O Brasil reúne diversas condições para capturar todas as oportunidades desta nova fase. Tem clima, terras agriculturáveis em abundância, um sistema de custeio e financiamento à agricultura que é um benchmark mundial, um programa de biocombustível de mais de quase 30 anos bem como tem institutos de pesquisa agrícola de renome internacional como o EMBRAPA. Além de todos estes aspectos tem-se ainda a possibilidade de se tornar exportador de petróleo com a exploração do pré-sal que ganha relevância com os atuais preços do petróleo que incentivam a extração em poços mais profundos.
Se o mundo tinha um processador de produtos industriais e outro de serviços, agora passará a ter um processador de alimentos e biocombustíveis em escala planetária. Não haverá necessidade de incentivos, o mecanismo de preços fará o seu papel na alocação de recursos e o Brasil estará pronto para tirar proveito de todas estas oportunidades.
Cabe ressaltar que não quero dizer que todos os países não terão sua participação nas esferas industriais, de serviços e da agricultura, mas que a China, Índia e Brasil serão complementares a estas esferas e os pólos dinâmicos destes setores respectivamente, no mínimo, no próximo decênio.
Diante desse cenário, o único risco é o da desindustrialização brasileira pelo processo conhecido como doença holandesa. Este processo foi diagnosticado por economistas em 1960 quando a Holanda ao descobrir e explorar reservas de gás natural teve um processo de apreciação da taxa de câmbio que ameaçou gravemente a indústria do país. Este aspecto vem sendo muito bem debatido e estudado pelo Professor Luiz Carlos Bresser Pereira e merece atenção redobrada. ( Vide “Paper”: Doença Holandesa e sua neutralização: uma abordagem ricardiana.)
Caberá uma atuação que não vem sendo feita do Banco Central em administrar a importante vantagem comparativa em commodities do Brasil fruto de rendas ricardianas oriundas da abundância de recursos naturais e mão-de-obra barata que já deprecia e depreciará a taxa de câmbio. A tendência hoje sentida de apreciação da taxa cambial pode ter conseqüências para o desenvolvimento industrial brasileiro sem se sentir seus reflexos no balanço de pagamentos de imediato uma vez que a taxa de câmbio de equilíbrio para o país estará fortemente influenciada pelo alto preço das commodities. Os produtos industriais brasileiros produzidos ao estado da arte tecnologicamente falando não estão e nem estarão em pé de igualdade para a competição na arena global e as commodities terão cada vez mais peso nas exportações brasileiras. ( Vide Gráfico Abaixo)

Fonte : Bradesco

Esta é uma sinalização importante para que o Brasil não se torne um país apenas extrativista e desendustrializado, ou com uma indústria apenas “maquiladora” como a Mexicana.
Esta política pode ser feita seja através da redução da taxa de juros, pela compra de reservas internacionais, pela imposição de controles da entrada de capitais, seja pela taxação de impostos sobre os bens que causam a doença holandesa. Tanto a China como a Índia adotam políticas semelhantes.
Esta na hora do Brasil iniciar uma política de defesa da apreciação cambial, pois com os atuais níveis de taxa de câmbio sobre apreciadas (vide gráfico abaixo) e o novo surto de crescimento puxado pela agricultura voltada à exportação com vantagens comparativas importantes nas commodities é possível que a indústria brasileira sucumba. Não é por outra razão que uma série de investimentos industriais visando à exportação vem sendo adiados no país (vide o caso das empresas automobilísticas para ficar em um só exemplo).



De outro lado, pode-se perceber claramente que o saldo de aproximadamente US$ 21 bilhões neste ano (até Setembro 2009), vem sendo puxado pela venda de produtos básicos enquanto que as importações de produtos intermediários e de bens de capital vêm crescendo fortemente. Já denotando claramente a Doença Holandesa no país, ou seja, a balança comercial está superavitária, o balanço de pagamentos em equilíbrio, porém devido apenas competitividade brasileira em commodities. Os produtos industriais produzidos ao estado da arte não encontram competitividade no mercado internacional e nacional, dada a taxa de câmbio extremamente apreciada e o Brasil começa a importar fortemente produtos intermediários e bens de capitais.
As reclamações do Presidente LULA endereçadas a VALE para que aumente o valor agregado investindo na produção do aço não consegue resposta, pois o problema não está no desejo ou não de seu CEO, Sr Roger Agnelli. Está condicionada a rentabilidade que só aparecerá a taxas de câmbio mais depreciadas. A reclamação deveria ser feita ao Presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Finalmente, feitas estas ressalvas do ponto de vista da administração da política econômica, cabe apenas um lembrete: se alguém falar em crise... vá plantar batatas.... Este será o novo caminho.

(*) Vitor Bellizia, 42 anos, é executivo financeiro, graduado e pós-graduado em Administração pela EAESP-FGV, professor de administração financeira da Fundação Prudente de Moraes e Professor Finanças da FGV/RJ. (Campus de ITU) Foi Vice-Presidente da ANFAVEA. (2005/07)